terça-feira, 13 de janeiro de 2015

constelação

Um dia a loucura tomou conta dele
mas supôs ser apenas cansaço
de modo que a ignorou e se deitou como depois de um dia longo
desses que se pensa que não vai acabar, mas na verdade sempre acaba
como os que terminam a contragosto quando está bom demais
e dormiu
ou pensou que dormiu
e sonhou
ou pensou que sonhou
e o que desabrochou foi a forma mais delicada de toda a brutalidade que refreava em si para que os outros não o tomassem por
louco
e então ele despertou
na madrugada
sedento de água
ou pensou que fosse de água
e a caminho da geladeira todo o universo se expulsou de si
como um contra-imã
pela sua boca 
saíram 
as estrelas
os planetas
os buracos negros, 
redemoinhos diversos de diversas cores
luas e satélites
e anéis
e asteróides 
e galáxias diversas que giravam em torno de si e da geladeira
constituindo a mais magnífica dança que ele já vira
rodopiando sentidos, sons, seres
numa música transcendental nunca ouvida antes por algum mortal
e ele
maravilhado
abriu a geladeira para apanhar a jarra de água
e matou a sua sede como quem afoga um peixe
e não havia nada mais maravilhoso naquele momento.

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