sexta-feira, 24 de julho de 2015

Topo

Os degraus eram intermináveis, como o fôlego parecia ser também. Não havia outra coisa senão a meta, o topo, o ante-além-pós. Passo sobre passo marcava a chuva salgada que despencava da testa.
   Um desfile de infinitas portas, janelas, corredores sombrios e luminosos, aberturas por onde passava todo tipo de criatura, paisagens transcendentes de jatos de águas límpidas, rios cristalinos de pássaros coloridos e luzes mirabolantes de movimentos eternos, monjolo de sombras, barcas do inferno, entrada de Pasárgada, caixas de Pandora, ilhas perdidas e castelos de muitos contos passava pelos lados de seu corpo e de sua percepção sem que fosse notado pelos olhos que se mantinham focados.
   Era lá! Só lá existia para aquelas pupilas que pensavam Sol. Aos poucos a distância diminuía e o fôlego adrenalina. Quanto mais perto, mais força e mais e mais perdidas.
   Finalmente, então, tocou o topo. Os joelhos se içaram, os olhos pousaram e, de repente, tudo, TUDO parecia desimportante. Esfacelava-se diante de não sabia o que o sentido do esforço, o esforço da busca. A respiração ainda não chegara, e não chegaria ao nada-resposta de tantos degraus.
   O topo era vazio, e o céu estava brilhante...

sexta-feira, 17 de julho de 2015

materializar o sentido

ama
teri
aliz
ação
do amor
é 
o que
é o que
afina
l
mate
ri
aliza
o amor
é possível
des
afetar
os medos
os dedos
os credos
ter o
cor
ação
aberto
pra utopia
se manifestar?
Que só vive
quem morre
e só morre
quem vive
e só se molha
quem ta na chuva
e só leva tiro
se se colocou 
no alvo
no perigo 
que mora a benção
a porta do céu
a do inferno
é a mesma
dúvida não faz o barco navegar
quem se fere viveu
quem saiu da casca voou
quem sofreu de amor
se apaixonou
gota é tempestade
tempestade é gota
mesmo garoa ainda é água
e se molhou é porque mereceu
se sofreu é porque doeu
e se doeu é porque envolveu
em algum lugar
amou
ainda que com a unha
amou
que se ama com o calor
com o fervor de um nada
que é só palavra
que esse nada tem potência de tudo
que vira a roda
gira o mundo
perturba tudo
desmorona mundos
abre fundos
cava profundo
e é nada.
É nada? É nada nada!
É tudo
e desse tudo
nasce a existência
o significado
a potência da morte
e o sentido da vida.