sexta-feira, 24 de julho de 2015

Topo

Os degraus eram intermináveis, como o fôlego parecia ser também. Não havia outra coisa senão a meta, o topo, o ante-além-pós. Passo sobre passo marcava a chuva salgada que despencava da testa.
   Um desfile de infinitas portas, janelas, corredores sombrios e luminosos, aberturas por onde passava todo tipo de criatura, paisagens transcendentes de jatos de águas límpidas, rios cristalinos de pássaros coloridos e luzes mirabolantes de movimentos eternos, monjolo de sombras, barcas do inferno, entrada de Pasárgada, caixas de Pandora, ilhas perdidas e castelos de muitos contos passava pelos lados de seu corpo e de sua percepção sem que fosse notado pelos olhos que se mantinham focados.
   Era lá! Só lá existia para aquelas pupilas que pensavam Sol. Aos poucos a distância diminuía e o fôlego adrenalina. Quanto mais perto, mais força e mais e mais perdidas.
   Finalmente, então, tocou o topo. Os joelhos se içaram, os olhos pousaram e, de repente, tudo, TUDO parecia desimportante. Esfacelava-se diante de não sabia o que o sentido do esforço, o esforço da busca. A respiração ainda não chegara, e não chegaria ao nada-resposta de tantos degraus.
   O topo era vazio, e o céu estava brilhante...

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