quarta-feira, 9 de maio de 2018

bichos


Tem bichos andando no meu corpo
Eu os vejo
Eu os sinto coçar na pele

Eu permiti que bichos entrassem
Para impedir que bichos viessem

E estou me sentindo bicho:
malquisto
pequeno
um fardo
um incômodo

Mas não sou o bicho
Eu sei
Eu não sou o bicho

Há bichos que me consomem
não sei por quê
não sei responder esta pergunta sem me ofender

Não estou no meu lugar
Eu não pertenço a esta casa
a este corpo
a este mundo

E isso me inebria de ódio
mas contra quem devo esbravejar?
Quem é o objeto do meu ódio?

A mulher que me punha de castigo no milho aos seis
O homem que me torturou desde os quatro?
Ou a mulher que me privou de tudo que não fosse ela?

Eu devo realmente culpar essas pessoas?
Ou segurar tudo sozinho
como sempre?

Tem realmente muito vivendo em mim...

da lama ao caos


Já chamaram minha vida de caótica
pelo menos 
umas
três 
vezes

Caótica
imprevisível... tentaram me fazer sentir culpa

Mas eles não entendem de caos
Não entendem nem de ordem
Tem a ideia de ordem como uma mesquinharia

Eu não estudo as estrelas
Eu sou uma.
Estudando sua luz eu encontro a minha pra iluminar outros

Mas tem gente que não pode ver uma luz
que vira mariposa
sem conhecer o que brilha dentro de si

Saiam de suas cavernas!
Ou
pelo menos
não gritem contra quem tem coragem de ser o que é
“Não da à luz a uma estrela brilhante
Quem não carrega o caos dentro de si’’

Eu sou o caos
realmente 
Mas aos vossos olhos
que não sabem olhar para além da letra que mata
o espírito que vivifica

Eu tenho orgulho de poder dizer que sou louco
Frente a esses sãos
desinteressantes e inflamados
contra o que foge a seu modo de ver o mundo

Chamaram minha vida de caótica
mas a vida desses eram pálidas
tristes
solitárias
e insuficientes

Prefiro ser caos
prefiro ser imprevisível